23 de fev. de 2011

TRANSFORMAÇÕES


 
Durante séculos as mulheres foram submissas aos homens e à sociedade controlada por eles que impunha valores severos a elas. Assim, passaram da fase de serem arrastadas pelos cabelos para a fase menos explícita ( mas não menos perigosa ) de serem obrigadas a comportamentos ‘adequados, apropriados’ – entenda-se recatados, para serem escolhidas pelos homens para um casamento, via de regra, sem amor, insatisfatório, de abandono e rejeição.
Mas durante essa fase em que as mulheres estavam no que eu chamo de ‘prateleiras de supermercado’, à espera de serem escolhidas, além da humilhação  da exposição, da ansiedade se seriam ou não escolhidas, ainda impunham a elas outros instrumentos de tortura, como o famigerado espartilho, as infames anáguas de crinolina...
O espartilho servia para afinar a cintura, tornando o corpo feminino à semelhança de um carretel, ressaltando seios e ancas, as únicas partes do corpo da mulher que sempre atraíam os olhares masculinos.
Então, a mulher prendia a respiração, se submetia a ser espremida, triturada naquela peça com vários cadarços que eram apertados ao máximo, ainda que para isso, a mulher mal pudesse respirar, se mexer ou sentar O objetivo final – ser escolhida – devia ser alcançado de qualquer forma...
Mas, felizmente, transformações acontecem! E as mulheres mudaram internamente, mudaram seu comportamento e as regras sociais também foram turbilhonadas por elas !
Hoje o espartilho infame foi substituído pelo corselet, os cadarços de antes por delicadas tiras de seda, peças que são usadas à vista e não mais debaixo de camadas e camadas de roupas.
O espartilho era uma forma de amordaçar a mulher, cerceá-la, colocá-la sob freios... esse cerceamento, essa prisão física nada mais era que uma exteriorização da prisão social imposta à mulher.
Hoje a mulher usa o corselet – o objetivo é o mesmo: provocar, seduzir o homem, mas, ao contrário de seu parente medieval, o corselet é vestido por vontade da mulher, as tiras de seda são atadas por ela, não mais para sufocar e prender a respiração, mas amarradas de forma a serem retiradas de forma sensual, exploradora, despudorada.
Hoje a mulher manda no seu corpo, comanda o corselet e o manuseia como melhor e mais sensualmente lhe convém. Com ele, a mulher está livre para viver plenamente sua sensualidade, dar asas à imaginação e criatividade. Hoje, ela não está mais na ‘prateleira’ – hoje ela seduz, conquista, escolhe e, o mais importante, desfruta da vida e seus prazeres. Soltou as  amarras físicas, emocionais, sexuais, sociais.
Hoje não mais aquele ser submisso – cujo melhor retrato era o espartilho -, aquele ser calado, diminuto, sem opinião, sem quereres, sem presença. Hoje, não mais...
Simone.

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