11 de abr. de 2011

SAUDADE - Rosam Cardoso

No altar do coração
dobro-me silente
para que a saudade,
por hora quente,
não desatine meus sentidos.

Como aplacar a corredeira
que invade a lembrança
de cada instância da narina
a emitir contínua
o perfume de tua tês?

E os olhos, então?
Dois brilhantes astutos,
arrancavam-me da calçada do viver
e me jogavam na estrada da paixão
sem direção, saborosamente sem tino.
Como era bom ter os cabelos alvoroçados
pelos ventos do imprevisto
nada de medo, só risco.
Ventura.
Tudo na espessura da alegria.

Ah, como a vida ganha sentido!
É um entorpecer benigno,
tangente às raias da loucura.
Que matura,
enaltece.
Uma prece a cada adormecer.
Os braços abrigados em teu contorno
sem limites
na sensação de extensão contínua
como nuvens que se encaixam.
Leves a flutuarem no céu dos sonhos.
Risonho o corpo se aconchega
e repousa na paz da completude.

Ah, saudade!
Porque me maltratas assim?
Sei que és o cárcere da lembrança
quando o presente carece de alma.
A saudade é irmã da nostalgia,
uma algia por não sermos mais nós.
Tu, alhures; eu - em nós.
Nessa altura, a saudade é uma doença,
uma vida que não se pensa,
ancorada no que foi.

Para resgatar minha deidade
deponho a saudade,
enterro as recordações
e olho para o futuro
feito de mim.

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