23 de fev. de 2011

Reinvenção


Cecília Meireles







A vida só é possível

reinventada.



Anda o sol pelas campinas

e passeia a mão dourada

pelas águas, pelas folhas...

Ah! tudo bolhas


que vem de fundas piscinas

de ilusionismo... — mais nada.



Mas a vida, a vida, a vida,

a vida só é possível

reinventada.



Vem a lua, vem, retira

as algemas dos meus braços.

Projeto-me por espaços

cheios da tua Figura.

Tudo mentira! Mentira

da lua, na noite escura.



Não te encontro, não te alcanço...

Só — no tempo equilibrada,

desprendo-me do balanço

que além do tempo me leva.

Só — na treva,

fico: recebida e dada.



Porque a vida, a vida, a vida,

a vida só é possível

reinventada.

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