Viver sempre também cansa!
O sol é sempre o mesmo e o céu azul
Ora é azul, nitidamente azul,
Ora é cinza, negro, quase verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.
O Mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
Folhas, frutos e pássaros
Como máquinas verdes.
As paisagens não se transformam
Não cai neve vermelha
Não há flores que voem,
A lua não tem olhos
Ninguém vai pintar olhos à lua
Tudo é igual, mecânico e exacto
Ainda por cima os homens são os homens
Soluçam, bebem riem e digerem
Sem imaginação.
E há bairros miseráveis,
Sempre os mesmos
Discursos de Mussolini,
Guerras, orgulhos em transe,
Automóveis de corrida...
E obrigam-me a viver até à morte!
Pois não era mais humano
Morrer por um bocadinho
De vez em quando
E recomeçar depois
Achando tudo mais novo?
Ah! Se eu pudesse suicidar-me por seis meses...
Morrer em cima dum divã
Com a cabeça sobre uma almofada
Confiante e sereno por saber
Que tu velavas, meu amor do norte.
Quando viessem perguntar por mim
Havias de dizer com teu sorriso
Onde arde um coração em melodia
Matou-se esta manhã
Agora não o vou ressuscitar
Por uma bagatela
E virias depois, suavemente,
Velar por mim, subtil e cuidadosa,
Pé ante pé, não fosses acordar
A Morte ainda menina
No meu colo.
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