Antes que seu pai dissesse alguma coisa, fala irritado:
"-Pai, estou com muita raiva.
-O Juca não deveria ter feito aquilo comigo.
-Desejo tudo de ruim para ele.
-O Juca me humilhou na frente dos meus amigos.
-Gostaria que ele ficasse doente sem poder ir à escola. "O pai escuta tudo calado enquanto caminha até o local onde guardava um saco cheio de carvão. Levou o saco até o fundo do quintal e o menino o acompanhou, calado. Zeca vê o saco ser aberto e antes mesmo que ele pudesse fazer uma pergunta, o pai lhe propõe algo:
-Filho, faz de conta que aquela camisa branquinha que está secando no varal é o seu amiguinho Juca e cada pedaço de carvão é um mau pensamento seu, endereçado a ele. Quero que você jogue todo o carvão do saco na camisa, até o último pedaço. Depois eu volto para ver como ficou.
O menino achou que seria uma brincadeira divertida e pôs mãos à obra. O varal com a camisa estava longe do menino e poucos pedaços acertavam o alvo.
Uma hora se passou e o menino terminou a tarefa. O pai que espiava tudo de longe, se aproxima do menino e lhe pergunta:
-Filho como está se sentindo agora?
"-Estou cansado, mas estou alegre porque acertei muitos pedaços de carvão na camisa. "
O pai olha para o menino, que fica sem entender a razão daquela brincadeira, e carinhoso lhe fala:
-Venha comigo até o meu quarto, quero lhe mostrar uma coisa.
O filho acompanha o pai até o quarto e é colocado na frente de um grande espelho onde pode ver seu corpo todo.
Que susto! Zeca só conseguia enxergar seus dentes e os olhinhos.
O pai, então, lhe diz ternamente:
-Filho, você viu que a camisa quase não se sujou.
-Agora, olhe só para você.
-O mau que desejamos aos outros é como o que lhe aconteceu. Por mais que possamos atrapalhar a vida de alguém com nossos pensamentos, a borra, os resíduos, a fuligem ficam sempre em nós mesmos.
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